ANTÔNIO ELIAS

Sua mãe contava que Antonio Elias havia nascido 'sozinho' - não deu tempo da parteira chegar à casa onde moravam, nos arredores da pequena cidade de Fernando Prestes, interior de São Paulo. Era a noite de 11 de maio de 1910, marcada pela passagem fulgurante do cometa Halley.

Família do Rev. Antônio Elias

Família do Rev. Antônio Elias - Ele é o segundo da direita para a esquerda

Foi o terceiro dos dez filhos do casal Olimpia, cabocla paulista, e Assad, libanês que aos 16 anos de idade se aventurou com um primo numa viagem ao país que nunca mais deixaria. Antes de ser alfabetizado foi servente de pedreiro, vendedor de sorvete com uma carrocinha, auxiliar de barbeiro e garçom da pensão que os pais adquiriram, na cidade. Tinha muita vontade de estudar, e mesmo sem ir à escola aprendeu o básico das palavras e dos números com alguns hóspedes (que o menino aguardava na estação ferroviária e conduzia, carregando as malas, à pensão).

Mais tarde aprendeu com um alfaiate o ofício de calceiro (as crianças tinham como obrigação esquentar o ferro a carvão para os alfaiates, antes do expediente que começava às seis e meia da manhã). Este ofício lhe valeu o sustento na capital do Estado, para onde foi alguns anos depois em busca de oportunidades de trabalho, até que viesse a crise econômica no início da década de 1930.

Converteu-se em 1932 na Igreja Batista Paulistana. Entrou na igreja com o amigo Halim Miguel, depois de andarem a esmo pelas ruas da cidade, consternados por não terem dinheiro suficiente para as entradas da peça encenada por Procópio Ferreira que desejavam assistir. Conversão sincera e definitiva, mas não chegou a ser batizado.

Igreja da conversão do Rev. Antônio Elias

É que dois meses depois de sua conversão o jovem Antonio Elias, voluntário do Movimento Constitucionalista, desgostoso com a derrota de São Paulo, pobre e doente, acabou internado no hospital da Brigada Militar em Porto Alegre. Acolhido como um filho pelo Capitão Ludovico Schilmayer em sua própria casa, lá teve a bênção de recuperar a saúde e sair, de fato, do semi-analfabetismo. Permaneceu nesta cidade em torno de um ano, período em que se filiou à Igreja Episcopal (pastoreada pelo Rev Vicente Brande).

Retornou ao interior de São Paulo quando do falecimento do pai. Em Catanduva, onde sua família residia, não havia igreja episcopal, de modo que se transferiu para a Igreja Presbiteriana. Eleito diácono, foi dirigir um culto num lugarejo vizinho (Tabapuã), a pedido do Rev Armando Amorim, seu pastor. Gostava de falar em público, tinha o sonho de tornar-se advogado. Uma das senhoras presentes (D. Josefina Cerqueira Leite, irmã do Rev Mário Cerqueira Leite), percebendo a vocação que despontava, perguntou-lhe se desejaria fazer um curso preparatório para ingressar no Seminário Presbiteriano de Campinas, São Paulo, onde faria o curso de Teologia.

Reverendo Antônio Elias pregando

Com o aval do seu pastor, foi aceito como aluno interno no colégio José Manoel da Conceição, em Jandira, São Paulo. Nesse tempo a pobreza e a saúde precária, entre outras situações bem difíceis, foram superadas por intervenções absolutamente milagrosas, confirmando o chamado de Deus para este honroso trabalho. Era apenas o início dos milagres que marcaram toda a sua vida.

Começou o pastorado em Teófilo Otoni, norte de Minas Gerais, como missionário da Junta de Missões Nacionais, em 1944. Ali ficou oito anos, solidificando o trabalho presbiteriano apenas esboçado naquela região. Ainda em Teófilo Otoni publicou "Testemunhos Vivos", com relatos de experiências de conversão a Jesus Cristo. É de sua autoria também o livro "Sementeira da Palavra", contendo pequenas mensagens.

Enviado ao Rio Grande do Sul pela Junta de Missões Nacionais em 1953, sua missão era implantar o trabalho no único estado brasileiro onde não havia nenhuma igreja presbiteriana. No período de três anos e três meses em que permaneceu ali, foi construído um salão de cultos no bairro Vila d. Teodora e adquirido o terreno da sede da Igreja Presbiteriana em Porto Alegre, duas escolas bíblicas dominicais foram organizadas, e oitenta e seis membros comungantes foram arrolados.

Igreja da conversão do Rev. Antônio Elias

Em seguida foi enviado à Campinas, São Paulo, agora fazendo parte da diretoria da Junta de Missões. Dois anos depois, em dezembro de 1957, aceitou o convite para ser o pastor auxiliar do Rev. Galdino Moreira, então presidente do Sínodo do Rio de Janeiro, sob cujos cuidados estava a Igreja Presbiteriana Central de Niterói. Foi eleito pastor dois anos depois, e reeleito duas vezes. Neste período duas congregações foram organizadas e se tornaram igrejas: uma no bairro do Fonseca (Igreja Presbiteriana do Sinai), e outra no bairro de São Francisco (Igreja Presbiteriana Betânia, pastoreada por ele desde sua fundação, em junho de 1966, até ser 'jubilado', i.e. aposentado, na terminologia presbiteriana, em fevereiro de 1981).

Reverendo Antônio Elias pregando

Pastor 'jubilado', ele e esposa continuaram ativos no trabalho, agora na congregação que logo se tornaria a Igreja Presbiteriana Betânia em Icaraí. Aí permaneceu até sua 'promoção para a Glória', em 21/12/2007, depois de seis meses de internações hospitalares recorrentes. (Na véspera da primeira internação hospitalar relembrou, emocionado, sua conversão a Cristo, no último culto dominical de que pôde participar; na manhã seguinte, cedinho, esteve na reunião de oração da igreja).

A paixão pela evangelização foi uma característica marcante de seu pastorado, na organização de campanhas evangelísticas (com Roy Hession, William Nagenda, Samuel Doctorian, entre outros, no início do pastorado em Niterói), e como pregador convidado, no Brasil e exterior, ao longo da vida.

Reverendo Antônio Elias pregando

Esteve nos EUA a primeira vez em 1958, a convite da World Gospel Crusades, tendo visitado e pregado em vários estados americanos. Como membro da Sepal (Serviço de Apoio a Pastores e Líderes, organização do grupo Billy Graham), participou de campanhas de evangelização por todo o Brasil. Foi um dos delegados brasileiros no Congresso Mundial de Evangelização realizado em Berlim em 1966. Nessa ocasião pregou nas cidades de Lisboa, Porto e Coimbra, em Portugal. Em 1967, ainda pela Sepal, foi preletor de congressos de obreiros em Buenos Aires, Córdoba e Tucuman, na Argentina. Foi o representante brasileiro na Comissão Executiva de Evangelização para a América Latina, com sede em Porto Rico, tendo participado de duas reuniões preparatórias em 1968 (na Colômbia e no México) para um grande congresso realizado em Bogotá com 500 obreiros sul-americanos, do qual foi também preletor. Participou do Congresso da Associação Billy Graham em Lausanne, Suíça, em 1974.

Reverendo Antônio Elias pregando
Foto: @eder accorsi jr

A Associação Evangelística Sarça Ardente (AESA), organizada pelo Rev Antonio Elias em 1966, expressa esse ardor pela difusão do Evangelho básico, simples – não simplista nem simplório – mas poderoso para reconciliar o ser humano com Deus através do sacrifício substitutivo de Cristo. Tendo o objetivo de cooperar com as igrejas, sem cor denominacional, na pequena sala no centro de Niterói (Av Amaral Peixoto 55 sala 209), as reuniões semanais às quartas-feiras à tarde funcionavam como 'pronto socorro espiritual'. Pela graça de Deus milhares de pessoas tiveram experiências pessoais de encontro com Cristo, houve reconciliações familiares, libertação de vínculos opressivos de diversos tipos, decisões de jovens e encaminhamento de vários deles para o ministério sagrado. Mantida com ofertas espontâneas, a AESA sustentou alguns evangelistas em tempo integral em vários estados do Brasil.

Concluo com o que disse o próprio Rev Antonio Elias (em conversa com o pastor Jeremias Pereira, que o conheceu numa campanha evangelística em Campinas, em 1977):

Durante anos tenho feito este trabalho [...]. Mas volto para a igreja local. A igreja lhe dá suporte, oração, encorajamento e lhe humilha muito. Em qualquer lugar que você vá há sempre multidões esperando. Você volta para a igreja e vai para uma reunião de oração onde há 3, 5, 10 pessoas. Sirva sua igreja com alegria e paixão, independente do número de pessoas presentes.

Esta biografia transcreve trechos dos livros "Água Feita Vinho" e "Cartas de Amor", escritos pela esposa Maria José.

Lucília de Almeida Elias Lopes – 27/03/2025

(de) Antônio (a) Elias

Antônio, quem é?
É João, é José?
Antônio sem sonho,
Antônio sem fé.
Soldado sem posto,
menino sem rosto.
Sedento, Com fome,
Sem nome na história,
Sem honra, Sem glória,
Antônio qualquer...
E pela graça de Deus
tornou-se Elias profeta.
Da vida, mais doce poeta,
Elias que multipIica,
Elias que ressuscita.
Ateia fogo, Consome,
faz chover, mitiga a fome,
com piedade e poder.
E eis que arrebatado por Deus,
em carruagens de fogo
deixa-nos órfãos-Eliseus,
Transformados por tua existência,
clamamos na tua ausência
Lança o manto Sobre os teus!

Da nora que tanto te ama,
29/12/2007

Mônica Boschi Elias

REV. ANTONIO ELIAS

Ele influenciou gerações de líderes e igrejas tanto presbiterianas como não presbiterianas, na direção da piedade, santidade, busca do avivamento, dedicação pastoral e evangelização. Rev. Antonio Elias foi um pastor amigo e um amigo pastor. Influenciou muito nossa igreja. Mentor e conselheiro nos momentos difíceis da minha vida pessoal, familiar e ministerial. O conheci em 1977, em uma cruzada evangelística em Campinas. Em 1984 começamos a estreitar vínculos e amizade, quando veio a Belo Horizonte pregar no 10 Celebrai que a Oitava realizou. Ele e D. Maria José me hospedaram várias vezes em Niterói. Tomei-me também amigo de seus filhos: Pr. Teophanes, Lúcio, Paulo César- Cecé e Lucília. Da sua vida, do seu ministério, desse relacionamento ficam muitos exemplos e ensinamentos. Selecionei dez, que chamarei "o legado do Pr. Antonio Elias".

O legado

  1. A humildade. Procurou aprender e demonstrar o que Jesus disse: "aprendei de mim que sou manso e humilde de coracâo".
  2. A vida de oração. Esta é talvez, a marca maior da vida do "mestre", Antonio Elias. Seu amor pela oração e a busca do avivamento pessoal e das igrejas.
  3. O amor pela Palavra de Deus. Diariamente meditava na Palavra de Deus. Sempre dizia: "A vida cristã é simples: Bíblia e oração, meu filho".
  4. A unção espiritual. Esta realidade transpirava a vida do santo varão em tudo. No seu lar, nas conversas particulares e nas suas pregações.
  5. A ênfase na Obra do Espírito Santo. "Sem o Espírito, nada acontece filho".
  6. O bom humor invencível. Já alquebrado pela enfermidade, no hospital, semanas antes do seu falecimento, soube pelo pastor Josué Rodrigues - filho na fé- que o mesmo havia sido reeleito pastor por mais 5 anos, com 98% dos votos da assembléia, mas que ele, o pastor Antonio Elias, tinha recebido um voto. Então o santo homem disse ao pastor Josué: "Ainda tenho esperança com esta igreja, pelo menos um, ainda tem a cabeça no lugar".
  7. A atitude sempre positiva. Nunca o encontrei para baixo. Sempre via algo bom nas coisas ruins. Quando fiquei viúvo, ele veio e pregou no culto de sepultamento de Ana Maria(2000). Quando se despediu me disse: "Choresua dor. Viva seu luto. Siga em frente. Há coisas maiores e melhores preparadas para você ". Esta era sua maneira de ver a vida. "Abra os olhos. Há algo bom lhe esperando, filho. Siga em frente, seguro na mão do Senhor".
  8. A paixão por Jesus. 'Tudo vem do Senhor e tudo é para o Senhor. Não há lugar para vaidades, soberba ou vanglória. E o Senhor que opera em nós e por nós. Procure agradá-lo, meu filho ".
  9. O amor pela igreja local. Uma vez um grupo de irmãos me fez uma proposta para deixar a igreja local e dedicar-me ao ministério intinerante de pregação, revitalização de igrejas e cruzadas evangelísticas. Ele me disse: "Não deixe a igreja. Durante anos tenho feito este trabalho de cruzadas e despertamento de igrejas. Mas volto para a igreja local. A igreja lhe dá suporte, oração, encorajamento e lhe humilha muito. Em qualquer lugar que você vai há sempre multidões lhe esperando. Você volta para igreja e vai para uma reunião de oração onde tem 3,5, 10 pessoas. Sirva sua igreja com alegria e paixão, independente do número de presentes ".
  10. A paixão pela evangelização: Ganhar almas e plantar igrejas. Já pastor jubilado, fundou igrejas e viajava semanalmente para conferências por todo país. Fundou e dirigiu junto com D. Maria José, a AESA - Associação Evangélica Sarça Ardente, que funcionava no centro de Niterói, onde residiu até sua morte. Seu alvo: ganhar almas para Cristo e faze-las dar frutos para o Reino de Deus.

Oro para que o Eterno nos dê a bênção de crescer nestas virtudes como indivíduos e como igreja.

Dezembro de 2008 Pr. Jeremias Pereira

Por que não fiquei triste?

Era uma grande e funebre despedida,
mas não havia tristeza em coração
Esforcei-me para ficar solene na partida
Daquele tão amado e querido irmão

Fui invadido por uma alegria formidável
coisa que não se sabe explicar
felicidade, uma paz incomensurável
uma certeza de que nala ia acabar

Cheguei até a "forçar" uma tristeza
pois era o que o momento exigia
mas, em meu coração havi uma certeza
O Amor de Deus tudo sobrepuja

Eu não podia sentir dor ou ter pesar
pois a Glória de Deus ali estava
Seu plano para ao pecador salvar,
enviando seu filho, funcionava

Era "apenas" um de seus servos, dedicado
que muitas batalhas havia vencido
E que para a Glória foi chamado
pois lá no céu foi requerido

Alguma coisa formidável dentro de mim
dizia: é uma prosseguimento, não um fim.
E esta alegria toda me fez descobrir
que a vida d'ele fez a Deus sorrir.

Toda aquela enorme satisfação,
toda aquela alegria que eu sentia,
era causada pela convicção
da promessa de Deus que se cumpria

Salvação!

(Dna. Maria José, não pude explicar aí a alegria que eu sentia, mas era uma vontade de sorrir, de brincar, que eu parecia ser uma criança.)

Dezembro de 2007 Antoninho, membro da comunidade